domingo, 19 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO NECESSÁRIA

Vivemos desde 1994 a era da Internet (a importância da criação da Internet está, sem dúvidas, no mesmo patamar da invenção da escrita, da roda, do telescópio, dos óculos, da fotografia, do telefone, do avião, dos satélites...), período de intensa comunicação, informação de altíssima velocidade com que fatos importantes ou não correm o mundo em fração de segundos.




A Internet foi e tem sido uma revolução e não há dúvidas quanto a isso. Estima-se que, atualmente, 3,2 bilhões de pessoas estejam conectadas à Internet, ainda que aproximadamente 4 bilhões ainda não tenham acesso à rede mundial de computadores. O surgimento das Redes Sociais são outra revolução, afinal, através de alguns sites de relacionamentos (Facebook, Instagram, Twitter etc.) pessoas estão conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns, interesses e objetivos semelhantes.

O principal site de relacionamentos do mundo é o Facebook. E é através do Facebook que cerca de 1,6 bilhão de pessoas relacionam-se compartilhando e curtindo publicações, postando links e fotos em imensa quantidade, além de realizarem diversos negócios.

No entanto, é preciso ficar atento. A Internet oferece vantagens e desvantagens. E com as redes sociais não é diferente. As pessoas de quase todos os lugares do mundo passaram a viver conectadas o tempo todo, em todos os lugares e esses novos hábitos moldaram o cotidiano das pessoas. Um novo estilo de vida surgiu: estamos todos conectados em todos os momentos. A comunicação e a transmissão de informação tornou-se instantânea.

Um exemplo de mau uso da Internet e seu consequente malefício reside na memorização e na acumulação de conhecimento. Através da ferramenta de busca mais famosa do mundo, o Google, as pessoas tiram todos os tipos de dúvidas: desde consultas médicas até trabalhos de pesquisa para a faculdade. A lei do mundo moderno é: se você tem alguma dúvida, digite no Google. Guglar tornou-se expressão comum. É preciso medir as consequências negativas dessa dependência. Afinal, é preciso filtrar informações, ter critério naquilo que será escolhido como adequado a uma pesquisa, a uma dúvida. É evidente que muitas das ferramentas do Google e também das redes sociais são interessantíssimas e extremamente úteis. Não devemos remar contra a tecnologia. Mas é importante, cada vez mais, avaliar o que é adequado ou inadequado. E a memória humana que antes do Google precisava armazenar mais informações com exatidão passou a ter um refresco, ou seria comodismo?

 Afinal, não há necessidade de decorar informações, datas, eventos. Tudo está no Google. Copiar e colar tornou-se muito fácil e um exemplo muito ruim dessa facilidade são os trabalhos escolares e acadêmicos pois, qualquer pesquisa solicitada e pronto, lá vão os alunos (estudantes) para o Google, o oráculo da atualidade. Aliás, foi através da internet que o mito da palavra aluno significar sem luz se disseminou. De acordo com o dicionário Houaiss, a etimologia da palavra "aluno" lat. Alumnus, i "criança de peito, lactente, menino, aluno, discípulo", der. do verbo alére "fazer aumentar, crescer, desenvolver, nutrir, alimentar, criar, sustentar, produzir, fortalecer etc."; ver alt-; f.hist. 1572 aluno, 1572 alumno .

O Google virou referência tanto para trabalhos de ensino fundamental quanto para trabalhos de conclusão de curso superior ou até mesmo para teses e dissertação de mestrado. Não tem problema nenhum reproduzir um texto de algum site ou lugar desde que seja citada a fonte. Outro grave problema são as citações de frases ou pensamentos. Clarice Lispector, escritora extraordinária falecida em 1977, por exemplo, é muita citada e/ou reproduzida só que a boa parte dos textos que a ela são atribuídos não são de autoria da excelente escritora brasileira! Clarice Lispector não é a única vítima. Diversos outros escritores famosos como, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Pablo Neruda, entre outros, são vítimas habituais que circulam pela internet com textos que erroneamente lhe são atribuídos!



A questão fundamental está no equilíbrio. Usar o Google como ferramenta de busca, de consulta otimizou muitas coisas em nossas vidas. Mas, não devemos abrir mão de utilizar nossa memória, de consultar um livro ou ir a uma biblioteca para obter informações. É necessário aliar-se aos avanços da internet sem, no entanto tornar-se refém dela.

Um exemplo de mau uso das redes sociais é a exposição. Comenta-se sobre tudo e sobre qualquer coisa. Ora, será que é tão necessário, como ocorre com frequência com muitos usuários das redes sociais expor trivialidades do dia-a-dia ou, ainda, demonstrar insatisfação pública com colegas do trabalho, da faculdade, enfim, de qualquer ambiente que faz parte do nosso convívio? Vale a reflexão.

É preciso utilizar a Internet, (redes sociais, Google etc.) com critério. Separar o que serve do que não serve. Ser cauteloso e não deixar-se diluir em meio a turbilhão de mensagens. Em 1948, George Orwell escrevia 1984, uma obra-prima que permanece atual e cada vez mais surpreendente. O livro teve a intenção de descrever um futuro baseado nos absurdos vivenciados pelo autor. Uma leitura fundamental para qualquer pessoa e cuja história tem como principal foco o controle das comunicações, fazendo da televisão, onipresente, o seu poderoso olho policial, o Grande Irmão dobrava todos à sua vontade. O lema do regime era "BIG BROTHER is Watching You", o Grande Irmão está vigiando você. Nada, portanto, lhe escapava.

Invertendo a lógica do aparelho televisor (atualmente, televisor e internet; antes a era do rádio), obrigatoriamente ligado, sem outras alternativas de programas, era por meio do tubo (internet, redes sociais, ferramentas de busca) que ele controlava os cidadãos rebaixados a servos obedientes. Não podemos agir como servos obedientes e transformar nosso cérebro em artigo de decoração sujeito e exposto a decisões de empresas bilionárias. É preciso aproveitar o que é útil e jogar fora o que não presta.

P. S. Foi através da internet também que o mito de originalidade de George Orwell em 1984, escrito em 1948, foi desmistificado. Seria 1984 plágio de Nós, escrito entre 1920 e 1921 pelo russo Yevgeny Zamyatin? Vale a leitura do artigo: http://dedos.info/gon/1984-de-george-orwell/


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Ângelo Luís

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